segunda-feira, 22 de março de 2010

Professores apresentam projeto poético no município de Cruz Machado

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Além de identificar poetas da região, a intenção é desenvolver oficinas de poesia para estudantes da rede estadual de Cruz Machado


Três professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Fafi) de União da Vitória, estiveram em Cruz Machado no início do mês, apresentando para autoridades locais e representantes de instituições de ensino da rede estadual, o projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu. Uma iniciativa que tem a finalidade de identificar os poetas – sejam eles conhecidos ou anônimos – de toda a região.

A explanação do projeto desenvolvido pela Fafi e financiado pelo programa Universidade Sem Fronteiras – entidade ligada a Secretaria de Estado da Educação – foi feito pelos professores Caio Bona Moreira, Bernadete Ryba e Josoel Kovalsk. “Na primeira fase do projeto nós estamos garimpando os poetas da região. Tem muitos que já publicaram (seus trabalhos), mas há aqueles que são ilustres desconhecidos e é isso que queremos fazer. Descobrir quem são os poetas da região”, explica a professora Bernadete.

Uma das grandes referências poéticas do país é a escritora Helena Kolody, natural de Cruz Machado, que deixou sua marca na história da literatura brasileira com inúmeras obras publicadas. Com referência a escritora, os autores do projeto estão fazendo este trabalho que além de identificar, também trabalhará a poesia com os alunos da rede pública.

“Após os levantamentos, vai ser trabalhado com professores e alunos, a produção de poesia”, conta Ryba. A idéia é oferecer uma oficina de três dias para os estudantes das 8ª séries dos Colégios Estaduais Barão do Cerro Azul, Helena Kolody e Estanislau Wrublewski. As oficinas devem acontecer no mês de agosto em cada turno. “Queremos mostrar aos alunos que na região existem grandes talentos”, frisa.

Os autores do projeto também apresentaram uma lista com o nome de vários poetas já identificados e que serão entrevistados. Mas a lista tende a aumentar no desenrolar dos trabalhos.

Além do professores e representantes das escolas estaduais do município, participaram da reunião, o prefeito em exercício, Nelson Barczak, a secretária de Cultura Isolde Marisa Martinhuv e a secretária de Educação, Darlise Nedochetko.
(Matéria publicada em março no jornal Vale do Rio da Areia)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu

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Coordenado pelo Colegiado de Letras da Fafiuv, o objetivo principal do projeto é o de resgatar as manifestações poéticas produzidas na região

A paixão pela literatura é o que move esta equipe de trabalho. Dedicação, aprendizado, livros nas mãos e pesquisa cientifica são o seu carro chefe. Estamos falando dos pesquisadores do Colegiado de Letras da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras (Fafiuv). Desta vez, estes pesquisadores nos presenteiam com uma novidade que envolve a poesia. Desde 2009, a equipe esta focada no projeto intitulado Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu. O projeto conta com o apoio da direção da Fafiuv e do Programa de Extensão Universidade Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti).

Resgate literário

Os coordenadores do projeto professor Ddo. Caio Ricardo Bona Moreira, professor Esp. Josoel Kovalski e professora Ms. Bernardete Ryba explicam que a idéia é a de resgatar as manifestações poéticas produzidas na região do Vale do Iguaçu. Para os pesquisadores, a memória é um elemento essencial do que se costuma chamar de identidade, individual ou coletiva.
Os professores parafraseiam Jacques Le Goff, em Histórias e Memória, que afirma que a memória alimenta e procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Neste sentido, a equipe pretende trabalhar de forma que a memória sirva para a construção de um saber mais consciente e disseminador em relação às práticas sociais. Ainda, este resgate literário tem um papel fundamental na conservação, bem como na produção de conhecimentos que se constituem como preciosos bens culturais e simbólicos de uma comunidade.

Atividades

O projeto que teve inicio em 2009 apresenta previsão para término das atividades em dezembro deste ano. Até lá, a equipe de pesquisadores segue um cronograma, assim dividido:
- Levantamento bibliográfico dos poetas locais; Produção de um roteiro para um vídeo-documentário sobre poesia regional; elaboração do documentário; Montagem de oficinas poéticas tendo como tema a vida e obra dos poetas da região. As oficinas serão desenvolvidas pelos acadêmicos com a orientação dos professores da Fafiuv envolvidos no projeto e serão aplicadas em escolas de União da Vitória e Cruz Machado para as turmas de 8ª séries; Projeção do documentário nas escolas e na comunidade; Elaboração da II Antologia do Vale do Iguaçu, que dará seqüência a primeira, organizada em 1976 pelos professores Francisco Filipak, Nelson Sicuro e Fahena Porto Horbatiuk, do Colegiado de Letras da Fafiuv.

Tarde de sexta-feira

Basta alguns minutos ao lado desta equipe de pesquisadores para perceber tamanha dedicação para com a pesquisa cientifica. Todas as sextas-feiras, a equipe se reúne no período da tarde, para discutir o Projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu e, ainda apreciar literatura e poesia. O que se percebe desta turma é que a paixão pela literatura os tornou graduados pela faculdade da vida. Só isso não basta. Apaixonados pela arte, nas horas livres não dispensam um bom livro.



Equipe de Trabalho
Coordenadores:
Professora Ms. Bernardete Ryba
Professor Ddo. Caio Ricardo Bona Moreira
Professor Esp. Josoel Kovalski
Colaboradores:
Professor Ddo. Aurélio Bona
Professora Ms. Fahena Porto Horbatiuk
Pesquisadores bolsistas:
Acadêmica recém formada:
Karine Bueno Costa
Acadêmicas:
Anne Schulz
Fabiana Meneguel
Jaqueline Naizer
Juliana Santana
Simone Kovalczuk


Matéria produzida por Wanessa Stenzel e publicada no site: www.fafiuv.br
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quinta-feira, 11 de março de 2010

Notícias do Front - 3

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No dia 10 de março de 2010, a equipe integrante do projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu, representando o Colegiado de Letras da FAFIUV, participou das gravações do programa Vale Tudo, do radialista Beto Reolon, nas dependências da Rádio União. Os professores e acadêmicos envolvidos no projeto conversaram sobre literatura, lingua portuguesa e educação, num papo descontraído com o radialista. Reolon frisou a importância do projeto para a cultura dos municípios do Vale do Iguaçu, bem como a necessidade da continuação das pesquisas. O programa irá ao ar na manhã do dia 21 de março, às 8h.
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terça-feira, 9 de março de 2010

Texto de Sylvio Back sobre Helena Kolody

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O POEMA, AFINAL, CONTINUA A VIDA

Cinema é mera ilusão. O que o olho visualiza, a câmara nem sempre mediatiza. Fotografia e fotogenia - duendes rebeldes da cartola imagética.

Há algo de erótico nisso tudo. Nesse intercurso assimétrico com o desconhecido. Virar as costas para as certezas do quadro entrevisto - puro risco.

Desbanalizar a imagem. Como hoje ultrapassá-la a não ser remontando regra e subversão, intuição e acaso, citação e novidade? Só o anverso é certo.

Volta às origens, de quando o cinema precisava que se acreditasse nele. Na revolução do ato de ver que se anunciava. Que não era teatro filmado ou balé filmado, sucedâneo de circo ou de ópera, simulacro das artes plásticas. Era tudo isso, com o plus da multiplicação industrial do sonho.

Lumière e Meliès - nossos maiores, assestaram um neo-olhar e um neo-imaginário sobre o homem e sua coreografia - a pintura tornada movie para renascer numa superfície de incontrolável leitura anímica e telúrica.

O que tem sido o cinema, que carrega a pecha de não pensar, senão dar visibilidade às aparências, do invisível - a sugestão?

É nelas que o curta-metragem, "A Babel da Luz", repousa a sua arqueologia, sua história e transcendência. No rito facial da poeta Helena Kolody, na suave retória de Helena Kolody, no intenso silêncio de Helena Kolody - o alto relevo do magma espiritual de uma ilusão biográfica.

Com o "dizer" de poemas protagonizado pela própria autora, o filme vai em busca de um estilo que consagre a ambos, criador e criatura.

Helena Kolody falando em versos, pelos seus versos - como se falasse de (a)cada um de nós, e à posteridade.

Por isso a imagem excludente do cotidiano em "A Babel da Luz". Por isso a imagem eleita da poeta como o receptáculo e o espetáculo do todo - sem rebuços ou artifícios que não o eco e a cor da palavra.

"A Babel da Luz" é o tráfico metafórico entre o falado e o calado, entre o escrito e o traduzido, entre o filmado e o gravado. A revelação do ser humano e de suas circunstâncias lastreada no fabro lírico, gráfico e semântico do poema. Que o poema, afinal, continua a vida.

Eis, portanto, o filme da poesia sobre o poeta: Helena Kolody incorpora e verbaliza aqui a vocação inata do cinema, o poema deslocado do real para renascer sob o signo da aura tecnológica.

É a prestidigitação inexcedível do cinema que sempre flagra-se rupestre - o reencontro com o fotograma inaugura".

Sylvio Back
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Memórias do Vale do Iguaçu

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Qual é o lugar da poesia na sala de aula? Muitas ações ainda se enveredam pelos caminhos do estabelecido, bem conceituado e criticamente aceito. Muitos jovens desconhecem a poesia de nossa região pelo fato de na escola o grande poeta ser quase sempre o poeta consagrado, ou o poeta morto. Muitos dos que fazem poemas sem intenção editorial ficam no esquecimento, e belas peças da poesia sucumbem no anonimato, pelo desconhecimento de escritores que acontecem em nossas proximidades. Ainda na mesma linha encara-se, muitas vezes, o fazer poético com o que diz respeito ao mundo clássico e seus sucessores, as escolas literárias e as poesias didáticas, não se atendo ao fato de que muitos livros não vistos pelo prisma da poesia tradicional são belíssimas construções poéticas.
Auerbach no livro Mimesis ressalta o valor das narrativas do Antigo Testamento, opondo-as às narrativas homéricas. O crítico alemão busca, numa fonte poética alternativa do mundo clássico, a palavra poética que perfaz nos ouvintes elementos não presentes na tradição da Odisséia, como o não-dito, o não expresso explicitamente pelas vozes que permeiam os textos.
Nas universidades os poetas da geração de 22 só foram estudados nos anos 60, quatro décadas depois do estopim do grupo modernista. No lugar deles ainda imperava a poesia do século XIX, considerada por muito tempo quase que a única maneira de se versar sobre o homem e o mundo. Se isso aconteceu nos meios acadêmicos, donde emanam muitas teorias e abordagens para o ensino e apreensão do fenômeno poético, nas escolas de Ensino Fundamental a poesia ou era desculpa para se ensinar gramática, ou era confundida com versos metrificados e rimados em cadências que buscavam a forma perfeita. O resultado em muitos casos é pensar que poesia é coisa do passado, ultrapassada, algo totalmente fútil aos nossos anseios atuais gerando aversão por parte dos estudantes. Muitos dos alunos que dizem não gostar de poemas são os mesmos que desabafam em verso ou prosa nos seus cadernos, nas margens dos cadernos escolares, nas anotações de pensamentos, porque pra eles é instaurada a noção de que poesia é rima, perfeição formal e decoro. Escrevem poesia sem saber, defendem a poesia das teorias clássicas, dos decoros.
Felizmente, muitos professores das escolas de nossas cidades têm um pensamento diferenciado. Mostram a poesia não como algo estático; promovem a liberdade de criação em verso ou prosa.
Pensando na poesia de nossas cidades foi desenvolvido o projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu, no qual acadêmicos da FAFIUV buscam o encontro com escritos de nossos conterrâneos para depois trabalhar em apresentações em sala de aula, em oficinas de poesia com os estudantes do Ensino Fundamental. Levar ao estudante a poesia pulsante de nossos escritores e aos alunos propor a valorização desses poetas é o objetivo de professores do Curso de Letras, apoiados pelos professores de língua portuguesa da região e por estudiosos e diletantes da poesia, que vêem no resgate mais que uma simples ação pedagógica: um compromisso com a história de nossas cidades. Seguindo os passos de uma primeira antologia, organizada dentre outros pela professora Fahena Porto Horbatiuk, será lançada a segunda, na qual constarão trabalhos de poetas de nossas cidades e mostrará aos jovens que a poesia é pulsante e também está próxima de nós.
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Prof. Josoel Kovalski
Prof. de Literatura da FAFIUV
(O texto foi originalmente publicado no jornal Caiçara, da cidade de União da Vitória, em 05 de março de 2010)
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Notícias do Front - 2

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Na quarta-feira, 3 de março, a equipe de coordenadores do projeto, Bernardete Ryba, Josoel Kovalski e Caio Ricardo Bona Moreira, bem como as pesquisadoras Karine Bueno Costa e Fabiana Meneguel visitaram a prefeitura do município de Cruz Machado para apresentarem o projeto "Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu" para a comunidade daquela cidade. Estavam presentes, além do prefeito em exercício, a secretária de Cultura de Cruz Machado, bem como professores e diretores de escolas da região. Na reunião, a equipe ressaltou a importância do projeto para o município, tendo em vista que a poeta Helena Kolody, que inspirou as pesquisas, era natural de Cruz Machado. As escolas de Cruz Machado receberão as oficinas de poesia no segundo semestre de 2010. A equipe recebeu sugestões da comunidade local para o bom andamento do projeto.
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terça-feira, 2 de março de 2010

Helena Kolody: Esfinge de olhos azuis

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Helena Kolody é uma das maiores poetas do Paraná. Sua poesia inspirou o projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu, patrocinado pelo programa Universidade sem Fronteiras, da SETI, e desenvolvido pelo setor de Literatura Brasileira do curso de Letras da FAFIUV. O projeto pretende fazer um resgate da poesia produzida na região. Algumas atividades estão previstas, como a elaboração da II Antologia Poética do Vale do Iguaçu, a produção de um documentário com depoimentos de poetas da região, bem como a aplicação de oficinas para alunos do Ensino Fundamental de escolas de União da Vitória e Cruz Machado.
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«A frase/poema sai do cotidiano, passeia pela experiência da sensibilidade e termina por acertar no ponto limítrofe entre o pensar e o sentir». É o que Alice Ruiz diz em artigo para Galiere, em 1987, sobre a obra de Helena Kolody. Como se poeta e poesia se tornassem uma mistura homogênea no ato da escrita, «num aperfeiçoamento em que espírito e técnica se fundem para deixar em nós, definitivamente, o perfume da mais autêntica poesia». E é assim que se pode definir Kolody, não apenas uma poeta, mas a poesia em si, como se ambas fossem uma coisa única.
Desde pequena Kolody adorava ler e escrever. Seus primeiros poemas foram escritos com apenas 13 anos de idade. Nunca se esqueceu de suas origens, foi a primeira brasileira de sua família ucraniana: «Olha pela janela azul do meu olhar / sereno e transparente, onde se esconde calma / a misteriosa esfinge eslava que é minh'alma. / Se olhares bem, verás, por certo, desdobrar-se/ Pela minh'alma adentro a estepe soberana». Adora a cultura de suas raízes: «Na memória do sangue, / há bosques de bétulas, / estepes de urzes floridas / canções eslavas». Também sua terra natal, Cruz Machado, e as cidades onde passou a infância, Três Barras e Rio Negro: «Vim de meu berço selvagem, / lar singelo à beira d'água, / no sertão paranaense». E principalmente Curitiba, cidade onde cresceu e evoluiu intelectualmente: «Por fim ancorei para sempre / em teu coração planaltino, / Curitiba, meu amor!».
Helena foi professora de biologia. Suas aulas eram recheadas com poesias. No final das aulas lia um de seus poemas para a classe, todos ficavam encantados procurando decifrar o «enigma/professora de olhos azuis», que sempre foi muito misteriosa. A escritora viveu uma espécie de afastamento, não isolado, mas de observações deste demasiado mundo, e dessa observação um pouco narcisista, com olhos esfíngicos, dentro de um eu que se transfere ao leitor. Como diz Paulo Venturelli: «O que há de pessoal, na verdade, adquire uma coloração de inter-pessoal para permitir uma identificação mais plena com o leitor». Kolody criou poemas repletos de sonhos, de uma dimensão maior que a realidade, um sono acordado, ou como ela escreveu: «Do longo sono secreto/ na entranha da terra,/ o carbono que acorda diamante.”
O sono/sonho está presente em muitos de seus poemas: «Quando sonho, sou outra/ inauguro-me». Na verdade ela se inaugurava quando escrevia: «Vejo melhor/ quando sonho/ de olhos fechados», ou: «Na realidade eu sonho palavras». E apesar de querer ser só oniricamente, seus poemas a ligam com o mundo exterior. Venturelli nos diz que «ela precisa do leitor, já que pretende agir sobre ele por meio de magia. Então, cuidadosamente, deixa alguma porta entreaberta: afasta um eu excessivo e abre campo para a interferência do leitor». Seus primeiros escritos são mais líricos. Neles, pode-se constatar o amor impossível, amor que ela guardou só para si e para a poesia, pois não se casou e não teve filhos. Mas sabemos que um amor verdadeiro existiu: «(...) Eterno sonhador, teu vulto pensativo/ vive na timidez do meu amor esquivo». O amor para ela se tornou apenas sonho e literatura: «fomos duas arvores castas / não misturamos as raízes / Apenas enlaçamos / os ramos / e sonhamos juntos».
Outro traço marcante em sua poesia é a sua fé. Helena sempre foi muito católica. Um de seus poemas recebeu o imprimatur da igreja e se tornou oração: «Concede-me, Senhor, a graça de ser boa, / de ser o coração singelo que perdoa, / a solícita mão que espalha, sem medidas, / estrelas pela noite escura de outras vidas / e tira d'alma alheia o espinho que magoa». Conclui-se que Deus atendeu seu pedido, pois era adorada por todos. Leminski, sobre ela, relata: «Mãe querida, nada como ter uma fada na vida».
A maior realização literária se dá com os haicais e poemas curtos. Foi uma das primeiras brasileiras a se aventurar na arte oriental. Sua poesia mínima pode ser comparada a um vôo breve de águia, leve, veloz e impressionante: «Prisioneiro do nada / pássaro mutilado / que a distancia fascina». Foi Andrade Muricy quem a incentivou a investir nessa técnica, um conjunto de palavras que remete a uma enorme rede de imagens: «Escrevo por prazer. Às vezes, meus poemas afloram por inteiro.
(...) São o que chamo de vivíparos. Estes são os melhores e geralmente estavam hibernando dentro de mim. Outros são ovíparos, é só um núcleo que amadurece».
Com a maturidade Helena, que era leitora de Proust e Fernando Pessoa, passou a adquirir mais técnica e a escrever de maneira mais filosófica, como no poema que dedicou para o poeta Paulo Leminski: «A casca espinhenta/ guarda a macia doçura da polpa». Sua obra representa uma vida de evolução intelectual. Por 23 anos fez parte da Academia Paranaense de Letras, sendo a segunda mulher a participar do grupo. Como em todo autor, podemos encontrar diálogos com outros escritores, como Cecília Meireles.
Sempre acompanhada de uma solidão única, refletindo sobre a morte, sobre questões metafísicas e trans-cendentais, Kolody acaba em suas últimas obras por apontar o valor da vida, defendendo o princípio de que a poesia pode transformá-la: «São palavras que decidem a sorte dos homens e o destino das nações». Então, deixa o pessimismo de lado e canta: «Se tens um elogio a proferir é tempo agora».
Quando perguntada sobre a morte, respondeu: «Não temo a morte porque creio no Eterno. O sonho continua sendo a minha matéria». Seu sonho se materializou em poesia, portanto ela se tornou ETERNA.

Karine Bueno Costa
Acadêmica recém-formada da FAFIUV
Cursando pós-graduação em Língua Portuguesa e respectivas literaturas
(O texto foi publicado originalmente no jornal Urtiga! n°10, publicação literária do curso de Letras da FAFIUV)
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Poemas de Helena Kolody



Indigência

Mãos de vento
constroem na areia
a exígua morada nos dias,
sem mirantes para o mar.



Prisão

Puseste a gaiola
Suspensa de um ramo em flor
num dia de sol.

Noite

Luar nos cabelos
Constelações na memória.
Orvalho no olhar.

Areia

Da estátua de areia,
nada restará
depois da maré cheia.



Alquimia

Nas mãos inspiradas
nascem antigas palavras
com novo matiz.


Desafio

A vida bloqueada
instiga o teimoso viajante
a abrir nova estrada.


As ilustrações ao lado são representações do Ukiyo-e (“retratos do mundo flutuante”), conhecido também por estampa japonesa, um estilo de pintura desenvolvida no Japão ao longo do período Edo (1603-1867). Foi uma técnica amplamente difundida por meio de pinturas executadas com o auxílio de blocos de madeira usados para impressão entre os séculos XVIII e XIX (fim do período Edo). Geralmente representava temas teatrais.

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