terça-feira, 9 de março de 2010

Texto de Sylvio Back sobre Helena Kolody

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O POEMA, AFINAL, CONTINUA A VIDA

Cinema é mera ilusão. O que o olho visualiza, a câmara nem sempre mediatiza. Fotografia e fotogenia - duendes rebeldes da cartola imagética.

Há algo de erótico nisso tudo. Nesse intercurso assimétrico com o desconhecido. Virar as costas para as certezas do quadro entrevisto - puro risco.

Desbanalizar a imagem. Como hoje ultrapassá-la a não ser remontando regra e subversão, intuição e acaso, citação e novidade? Só o anverso é certo.

Volta às origens, de quando o cinema precisava que se acreditasse nele. Na revolução do ato de ver que se anunciava. Que não era teatro filmado ou balé filmado, sucedâneo de circo ou de ópera, simulacro das artes plásticas. Era tudo isso, com o plus da multiplicação industrial do sonho.

Lumière e Meliès - nossos maiores, assestaram um neo-olhar e um neo-imaginário sobre o homem e sua coreografia - a pintura tornada movie para renascer numa superfície de incontrolável leitura anímica e telúrica.

O que tem sido o cinema, que carrega a pecha de não pensar, senão dar visibilidade às aparências, do invisível - a sugestão?

É nelas que o curta-metragem, "A Babel da Luz", repousa a sua arqueologia, sua história e transcendência. No rito facial da poeta Helena Kolody, na suave retória de Helena Kolody, no intenso silêncio de Helena Kolody - o alto relevo do magma espiritual de uma ilusão biográfica.

Com o "dizer" de poemas protagonizado pela própria autora, o filme vai em busca de um estilo que consagre a ambos, criador e criatura.

Helena Kolody falando em versos, pelos seus versos - como se falasse de (a)cada um de nós, e à posteridade.

Por isso a imagem excludente do cotidiano em "A Babel da Luz". Por isso a imagem eleita da poeta como o receptáculo e o espetáculo do todo - sem rebuços ou artifícios que não o eco e a cor da palavra.

"A Babel da Luz" é o tráfico metafórico entre o falado e o calado, entre o escrito e o traduzido, entre o filmado e o gravado. A revelação do ser humano e de suas circunstâncias lastreada no fabro lírico, gráfico e semântico do poema. Que o poema, afinal, continua a vida.

Eis, portanto, o filme da poesia sobre o poeta: Helena Kolody incorpora e verbaliza aqui a vocação inata do cinema, o poema deslocado do real para renascer sob o signo da aura tecnológica.

É a prestidigitação inexcedível do cinema que sempre flagra-se rupestre - o reencontro com o fotograma inaugura".

Sylvio Back
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Um comentário:

  1. gostaria de adquirir o filme a ''babel de luz''
    eu estou desenvolvendo um projeto na escola ''viva escola''. voce sabe onde eu posso encontrar

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